Depois de mais de quinhentos e dez anos da chegada dos portugueses no Brasil, e dos seus crimes contra todos os povos indígenas, que nunca foram punidos, os latifundiários deste país, que sempre seguiram o exemplo dos portugueses, vão pensar duas vezes antes de cometerem algum mal contra alguém que luta e defende os pequenos desta terra.
Pela primeira vez na história desse país e, mais precisamente no Estado do Pará, campeão em violência no campo, graças ao reinado da impunidade, uma quadrilha toda foi colocada atrás das grades para pagar, perante a lei dos homens pelo crime que cometeram. O crime, o assassinato da Irmã Dorothy Mae Stang, não só Irmã, mas como um dos sobrenomes sugere, “Mae”, “Mãe” dos que com ela conviveram, dos irmãos e filhos de Anapu, filhos sofridos e por ela amados.
Diversas vezes, os meios de comunicação da elite insinuaram que o processo só estava correndo mais rápido porque a Irmã Dorothy era estrangeira, norte americana. Mentiram, porque quem ama o próximo não tem fronteiras, não tem país, vive no amor de Cristo, que é Universal. Esse amor, a Irmã Dorothy soube levar por onde passou. O amor da fraternidade, da partilha, diferente do amor dos fazendeiros, dos grileiros de terra, dos que vêm de fora para esta terra pensando no egoísmo, de ganharem muito dinheiro apenas para si mesmo. Quando pensam nos outros, é para explorar. O amor da Irmã Dorothy era para partilhar o bem comum das terras sem devastar. São pensamentos diferentes e projetos diferentes, onde a ganância de alguns contrasta com o amor dos pobres e oprimidos.
Quantos já morreram por causa desse projeto coletivo, da partilha da terra para dar um sustento digno para as famílias desse país, que também são filhos desta Pátria, às vezes não muito gentil com seus filhos? Irmã Adelaide Molinari, Padre Josimo Tavares, o pai e os filhos Canuto, Dema, Dezinho, Expedito Ribeiro, Benezinho, meu pai Virgílio Serrão Sacramento, 19 Sem Terra em Eldorado dos Carajás e muitos e muitos outros que não pensaram duas vezes de que lado ficar em nome do amor, o verdadeiro amor ensinado por Jesus Cristo, que diz “Não existe prova de amor maior, do que doar a vida pelo próprio irmão”.
O julgamento e a condenação de todos os acusados pelo envolvimento na morte da Irmã Dorothy significam muito para toda a sociedade brasileira, mas precisamente paraense. Não significa dizer que a impunidade no campo acabou, mas que exemplarmente, houve uma condenação justa, que embora se saiba que existem outros fazendeiros de Anapu envolvidos no assassinato, agora vão pensar mais quando forem tirar a vida de alguém que defende o projeto de Deus nesta terra. Isso não quer dizer que daqui para frente a criminalidade vai acabar, porém esses gananciosos, a partir dessa condenação, já sabem que com fé em Deus e muita pressão, a Justiça funciona.
Condenar todos os assassinos da irmã Dorothy, não significa dizer que a luta acabou. Há muitos outros processos que precisam ser julgados e nós vamos continuar nessa batalha para que eles possam ser levados a júri popular. Entretanto, essas condenações têm um significado muito grande. A partir de agora, os grandes latifundiários gananciosos sabem que as coisas não são mais como eles pensavam - tomar terras, matar e tudo ficar impune, como sempre aconteceu.
Tenho certeza que todos os que morreram lutando por um projeto de igualdade, neste Brasil e nesta Amazônia, não morreram em vão, e eles, os MÁRTIRES DA TERRA, assim com nós, estão felizes com a condenação de Regivaldo Galvão. Devem estar comemorando no Céu com a Irmã Dorothy esta vitória.
Todos os Mártires da Terra Vivem? Sempre! Sempre!
Irmã Dorothy vive? Sempre! Sempre!
Elias Diniz Sacramento é filho do sindicalista Virgílio Serrão Sacramento, assassinado em Moju no dia 05 de abril de 1987 a mando de grileiros do município. É Mestre em História Social da Amazônia pela UFPA. Autor do livro 'A luta pela terra numa parte da Amazônia: o trágico 07 de setembro de 1984 em Moju'. É Membro da fundação Virgílio Serrão Sacramento de Educação e colaborador da CPT Guajarina.
2 comentários:
aos que dizem da incapacidade intectual do homem amazonico, ao que olham a amazonia como o campo de riquezas economicas e lucros, uma respota altiva e corajosa. Nos pensamos, nos agimos, nos não nos renderemos ao cativeiro da terra,não nos amedrontaremos diante da besta do grande capital que avança sobre nossas terras, sobre nossas florestas, sobre nossos rios, que tentar destruir nossas formas de vida, não nos curvaremos a violencia do latifundio, não nos calaremos na ausencia do Estado, lutaremos sempre pela nossa liberdade e a esperança de vivermos do fruto do nosso trabalho.
na frente da batalha teremos sempre a memória dos deram a suas vidas pelos pequenos da terra!
Viva a todos os martires da terra!!!!
Maria Martins
Elias Diniz Sacramento escreveu um livro sobre a tragedia ocorrida com o meu pai.Não quero entrar no merito da questao, afinal já fazem muitos anos. Mas em seu livro ele mostra desconhecer tudo sobre o meu pai, o vereador Edmilson ribeiro soares. Em primeiro lugar
ele não era mineiro e, sim baiano.
Sua esposa, ou seja minha mae, se
chamava anete de oliveira figuei-
redo soares. eu tenho outros qua-
tro irmaos por parte de mae e ela
também é da bahia.
lamento muito o fato de meu pai
ter lagardo a boa vida que tinha-
mos em são paulo e nos jogar na -
quele inferno que era a reasa. A-
pós sua morte minha mae ficou de-
samparada e com cinco filhos para
criar. a empresa deu a ela uma in
denização mixuruca e tivemos que
voltar para a bahia para morarmos
com nossa avó. prometeram a ela uma pensão especial a qual ela nunca recebeu. hoje ela só recebe um salario minimo como pensionista
Passamos por muitos mau bocados
quando moravamos no Pará , coisas
das quais não quero nem lembrar.
a proposito: meu nome é Elimar Figueiredo Soares.
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