quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais matança de trabalhadores rurais no Pará

MATANÇA NA FAZENDA RIO CRISTALINO, MUNICÍPIO DE SANTANA DO ARAGUAIA, SUL DO PARÁ

De maio a outubro de 2010, 04 trabalhadores rurais, cujos nomes constariam numa “lista” de marcados para morrer, foram assassinados na área ainda não desapropriada da Fazenda Cristalino, ocupada por cerca de 600 famílias desde 2008.

As vítimas foram: o lavrador Paulo Roberto Paim, morador do Retiro 5, pai de 2 filhos menores, assassinado em 28.5.10, na estrada do Retiro 5; José Jacinto Gomes, conhecido como Zé Pretinho, posseiro do Retiro 7, encontrado morto na sua própria roça, em 26.6.10, com diversos hematomas no corpo; em 22.10.10 foi a vez de Givaldo Vieira Lopes, pai de 3 filhos menores, morto por dois tiros na estrada do Lote 04, quando estava andando sozinho, de motocicleta, teve o corpo muito machucado; por fim, Lourival Coimbra Gomes, também conhecido por “Baiano”, cujo corpo foi encontrado no dia 24.10.10 na sua própria casa, com a cabeça decepada, a qual não foi encontrada.

A ocupação foi feita em 2008 pela FETRAF, numa área não desapropriada de 50.000ha da Fazenda Rio Cristalino (ex-Fazenda Volkswagen). A partir de 2009, muitas dessas famílias se desligaram da FETRAF e criaram a “Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais dos Retiros 1 ao 15” da Fazenda Cristalino, devido a pressão de um grupo que se diz representante da entidade e que extorque dinheiro das famílias, ameaçando-as para sair dos lotes que já tinham pago à entidade. Esse grupo persegue as lideranças da nova Associação, cujos nomes constariam, entre outros, numa lista de marcados para morrer.

Os nomes de todos os acusados constam nas diversas ocorrências policiais registradas pelos trabalhadores na Policia Civil de Santana do Araguaia, na Delegacia de Conflitos Agrários de Redenção (DECA), na Policia Federal e junto ao Ministério Público Estadual.

Diante disso, questiona-se:

Até quando as famílias da Fazenda Rio Cristalino vão ter que esperar pela prisão dos membros do grupo de extermínio?

Quem será a próxima vitima da “lista” dos marcados para morrer:

- Dona Jocélia, viúva de Givaldo, que continua a trabalhar em seu lote do Retiro 7?

- Dona Rosário Pereira Milhomem, tesoureira da Associação, que continua a morar no seu lote, no Retiro 8, apesar das ameaças desses pistoleiros que apontaram armas em sua cabeça?

- outros?

Xinguara-PA, 06 de dezembro de 2010.

Frei Henri Burin des Roziers - Advogado da Comissão Pastoral da Terra

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desmatamento e Ameaça de Morte no Assentamento Dorothy Stang

Redação CORREIO (Extraído do Site Correio24horas.com. Clique AQUI para acessar o site)

Quase seis anos após o assassinato de Dorothy Stang, a reportagem do Jornal Nacional voltou ao assentamento coordenado pela missionária, no sudoeste do Pará e pôde observar que pouca coisa mudou. A floresta continua sendo devastada, e os agricultores ainda vivem ameaçados por pistoleiros. A reportagem é de Fabiano Villela e Jorge Ladimar.

A floresta nativa desaparece em meio à devastação. Ao custo de milhares de árvores, fazendas espalharam seus rebanhos para muito além da área permitida.

Seguindo as clareiras na mata, encontramos máquinas escondidas sob galhos e várias pilhas de troncos. O desmatamento avança, principalmente, entre os municípios de Pacajá e Anapu, no sudoeste do estado, onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada, quando defendia a floresta e os colonos da ação de grileiros. A área concentra um dos últimos recantos de vegetação nativa na região.

Lavradores que moram no assentamento dizem que estão sendo ameaçados. “Eles entram pelo fundo dos seus lotes, tiram a madeira e você não tem direito de dizer que não pode tirar porque ele diz assim: ‘eu vim aqui não é para brincadeira’", revela uma lavradora.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 200 famílias vivem hoje na região. Quarenta estão sendo investigadas por suspeita de envolvimento na devastação. “É um grupo de pessoas bem organizadas que estão tirando madeira do assentamento, não são pobres colonos sem dinheiro que estão tirando madeira. Na verdade, estão tirando mesmo, de forma deliberada, financiado por madeireiras”, diz Antônio Ferreira, coordenador do Incra em Anapu.

Em uma área do assentamento, de mata fechada, os fiscais do Ibama constataram a extração ilegal de madeira. No local, foi derrubado esse Angelim de mais de 30 metros de altura. É madeira nobre, de alto valor no mercado. E no meio da floresta, dá para ver que as toras já estavam sendo beneficiadas em uma espécie de serraria.

“Vamos fazer o embargo da área, essa área não vai mais poder ser explorada e vamos monitorar as áreas e vamos informar ao Incra. O assentado, com esse tipo de atitude, pode vir a sair do projeto de reforma agrária,” conta a analista ambiental Gracicleide Braga, do IBAMA.

A Comissão Pastoral da Terra diz que as primeiras denúncias de retirada ilegal de madeira foram feitas há quase um ano e que até hoje o clima é de insegurança na região. “Tem algumas pessoas que têm até medo de sair de casa, porque, quando os madeireiros passam, eles passam escoltados geralmente por pistoleiros, e essas pessoas estão lá indefesas. O povo quer sobreviver. Do jeito que está, não dá”, diz Padre Amaro Lopes de Souza, da Comissão Pastoral da Terra de Altamira. As informações são da TV Globo.

Assista a reportagem do Jornal Nacional clicando na imagem

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MST reocupa a Fazenda Cambará

MST ocupa a Fazenda Cambará no município de Santa Luzia do Pará.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem por meio desta, informar:

1.Às 05:30 da manhã de hoje, 150 famílias ocuparam a Fazenda Cambará no município de Santa Luzia pela 4ª vez. Nestes 26 anos de luta, aprendemos que todas nossas conquistas só foram garantidas com as famílias “em cima” da terra;

2.A Fazenda Cambará é terra da união com 6.886 hectares, conhecida como Gleba Pau de Remo e palco do mais recente conflito agrário no Pará que resultou no seqüestro de João Batista Galdino de Souza e José Valmeristo, o Caribé no dia 03 de setembro de 2010, com o assassinato de José Valmeristo, o Caribé. João Batista conseguiu escapar deste atentado;

3.O grileiro, pastor e político Josué Bengstson que possui título de apenas 1800 hectares da área foi o principal mandante do crime. Marcos Bengstson e os três pistoleiros foram presos, mas sobre prisão temporária;

4.Cobrando a manutenção da prisão dos pistoleiros e de Marco Bengstson e a punição de Josué Bengstson; pedindo proteção a João Batista, testemunha do caso e a seus familiares; responsabilizando o Estado pelo crime e exigindo a desapropriação da Fazenda Cambará ocupamos o INCRA desde o dia 10 de Setembro;

5.Como resultado desta ocupação, o Estado, através do INCRA e do ITERPA se comprometeu a tomar as medidas cabíveis para agilizar a destinação da gleba pau do Remo para fins de Reforma Agrária; bem como punir os responsáveis pelos conflitos ocorridos na área;

6. A ocupação da fazenda mantém viva nossas reivindicações: justiça ao caso “Caribé”, amparo a viúva e as cinco crianças órfãs; proteção à João Batista e seus familiares e destinação da terra para fins de Reforma Agrária;

7- Na área, a milícia armada de Josué Bengstson continua intimidando e ameaçando aos trabalhadores e a polícia militar de Santa Luzia continua se omitindo do caso e até o momento não há nenhum autoridade pública no município;

8.Os Sem Terra deram a fazenda, o nome de Acampamento Quintino Lira, homenageando este lutador do povo que na década de 80 lutou bravamente para defender o povo e a terra do nordeste paraense;

9.Na área os Sem Terra pretendem desenvolver a agricultura familiar para gerar emprego e produzir alimentos saudáveis para abastecer a cidade.

Belém, 15 de setembro de 2010

Direção Estadual do MST – Pará

Reforma Agrária. Por justiça social e soberania popular!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mais um trabalhador rural assassinado

EM DEFESA DA REFORMA AGRÁRIA: TODO APOIO AO MST!

Na última sexta-feira – 03/09 – a violência do latifúndio vitimou mais um trabalhador rural em nosso estado. José Valmeristo Soares, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Santa Luzia do Pará, foi brutalmente assassinado no Ramal do Cacual, próximo à cidade de Bragança, o mesmo foi apanhado em uma emboscada junto com o seu companheiro João Batista Galdino de Souza quando se dirigiam a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Luzia. Ambos foram espancados e torturados e levados em direção a Bragança na intenção de que o crime não fosse descoberto. Porém, no momento da execução João Batista Galdino de Souza conseguiu fugir e denunciar o caso na delegacia do município, sendo que nada foi feito. O crime foi realizado por pistoleiros a mando do fazendeiro Marcos Bengstson, filho do ex-deputado Josué Bengstson. Este último, que atualmente é candidato a deputado federal, em mandato anterior teve que renunciar para fugir de cassação por envolvimento na máfia das sanguessugas. O mesmo se diz proprietário da área conhecida como fazenda Cambará, área reivindicada pelas famílias sem terra para reforma Agrária, já que a área pertencente à gleba federal Pau do Remo, terra pública.

A fazenda Cambará é um grande latifúndio de 6.886ha, do qual o suposto dono possui o título de apenas 1800ha, título este contestável, segundo o próprio INCRA, por tratar-se de terras públicas. A mesma está localizada no município de Santa Luzia do Pará, região de conflitos permanentes desde abertura da rodovia Belém-Brasília. Desde então, houve um avanço da apropriação das terras da região nordeste do estado por fazendeiros latifundiários, sendo que em muitos casos as terras eram áreas públicas.

Esse é um caso típico que vem se repetindo há vários anos e o amparo aos trabalhadores é sempre negado pelo Estado. A polícia finge não vê, a justiça protela o processo, o INCRA não faz a vistoria, o ITERPA se recusa a fornecer documentos e assim a impunidade legitima a violência e expulsa cada vez mais os camponeses para cidade, aumenta os conflitos no campo e o número de trabalhadores resgatados em situação de escravidão, levando o Pará ao índice vergonhoso de um dos Estados com maior concentração de terra no país e campeão na violência no campo. Segundo dados da CPT de 1982 a 2008 foram 681 assassinatos. Em 2009 foram 08 casos. Em 2010 a caso de José Valmeristo Soares já é o segundo caso ocorrido.

Diante destes fatos viemos manifestar nosso repúdio a mais um ato violento do latifúndio em nosso estado, que nos últimos anos vitimando centenas de trabalhadores rurais.

Indignados com essa situação, vimos manifestar nosso pleno apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, bem como á família de José Valmeristo Soares, sua esposa e cinco filhos. Dizer que sua luta é justa e necessária para construção da vida e da dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade e somar nossa voz nas mesmas reivindicações, exigindo:

1. A prisão imediata dos pistoleiros que assassinaram o trabalhador José Valmeristo Soares, bem como dos mandantes Josué Bengstson e seu Filho Marcos Bengstson;

2- A desapropriação imediata da fazenda Cambará para o assentamento das famílias acampadas no acampamento Quintino Lira;

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nós, do Pará, não precisamos de mais hidrelétricas’.

PARA REFLETIR UM POUCO ANTES DE LER A ENTREVISTA DO Pe. EDILBERTO SENA.

"A Terra não é um enorme armazém infinito de recursos, nem uma grande lixeira capaz de absorver indefinidamente nossos degetos. O atual modelo de desenvolvimento mundial tem usado o Planeta além de sua capacidade de suporte; em consequência, o colapso dos sistemas vivos é visível por toda parte, como por exemplo, o aquecimento global, a perda maciça das florestas e biodiversidade, entre outros. Como um lado diferente da mesma moeda, milhões de seres humanos estão condenados a uma vida de sofrimento, fome e miséria. O que se percebe é que a mesma lógica que super-explora o planeta também produz a miséria e a fome.
( ... )
Por trás dessa dessa vida, existem valores egoístas, materialistas, mesquinhos, nos quais o que realmente importa é acumular mais poder e lucro crescentes. (...) Na verdade, cada um de nós que coloca sua ideia de felicidade, sucesso, prestígio ou reconhecimento social no acúmulo de bens e dinheiro reforça esse modelo."
( Vilmar S. Demamam Berna , Pensamento Ecológico, edição Paulinas)
Ligar para o Norte do país exige um pouco de paciência, principalmente se o interlocutor estiver dentro da Amazônia. Depois de nossa ligação ter caído duas vezes no meio da conversa, o padre Edilberto Sena faz piada: “Deve ser aí, porque aqui no Pará tudo é muito desenvolvido”. Sena está organizando o I Encontro dos Povos e Comunidades Atingidas e Ameaçadas por grandes projetos de infraestrutura, nas bacias dos rios da Amazônia: Madeira, Tapajós, Tele Pires e Xingu que acontece entre os dias 25 e 27 de agosto, na cidade de Itaituba, no Pará.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Edilberto fala do encontro e narra a atual situação dos povos que serão atingidos pela Hidrelétrica no rio Tapajós. “O governo vende a falácia da energia limpa como se só tivéssemos duas alternativas: ou a energia suja do petróleo ou a energia limpa dos rios. E como a Amazônia é riquíssima em rios, eles estão aproveitando. São mais de 58 projetos de hidrelétricas na Amazônia. Cada barragem incide numa inundação imensa rio acima, provocando um distúrbio na bacia do rio abaixo, além da expulsão dos ribeirinhos”, explica.

Edilberto Sena é coordenador da Rádio Rural AM de Santarém no Pará e membro da Frente em Defesa da Amazônia (FDA).

IHU On-Line – O que vocês estão preparando para esse primeiro Encontro dos povos e comunidades atingidas por projetos de infraestruturas nas bacias dos rios da Amazônia?
Edilberto Sena – O encontro vai acontecer entre os dias 25 e 27 de agosto. Ele tem como objetivo principal o fortalecimento das alianças de todos aqueles que lutam em defesa da dignidade dos povos da Amazônia que vivem próximo da bacia dos rios Madeira, Telles Pires, Xingu e Tapajós. Na quarta-feira, teremos um ritual inicial que será realizado por cada grupo representante das quatro bacias. Eles trarão cinco litros de água do seu rio e farão um ritual de encontro das águas das quatro bacias com o rio Tapajós. Esse momento acontecerá na beira do rio e ali vou fazer um pronunciamento depois, os Munduruku farão uma espécie de “exorcismo” para expulsar os demônios que querem destruir os povos e os rios da Amazônia.

No dia seguinte teremos mesas redondas e depoimentos de companheiros e companheiras que vêm das diversas bacias sobre a nossa luta em defesa da dignidade. Vamos fazer um teatro pequeno onde faremos uma ligação direta com a plateia presente. Queremos divulgar ao máximo nos meios de comunicação de Itaituba, Belém, Santarém e do mundo através da internet para mostrar que o governo tem sido mentiroso porque dizem que não vão causar impactos sociais ou econômicos e as consequências que virão serão mínimas e compensadas. Sabemos que os impactos negativos são ambientais, econômicos e sociais para nossa região.
Para se ter uma ideia: o documentário que a Eletrobrás fez na bacia do rio Tapajós diz que cerca de 75 mil pessoas chegarão em busca de trabalho. Os projetos vão absorver diretamente apenas 25 mil. Isso significa que 50 mil pessoas ficarão zanzando em busca de emprego. Isso fará com que, por exemplo, o problema da prostituição aumente, assim como HIV, conflitos pessoais e assaltos. A cidade de Itaituba não consegue captar a maldade desses projetos de hidrelétricas na Amazônia.

O governo vende a falácia da energia limpa como se só tivéssemos duas alternativas: ou a energia suja do petróleo ou a energia limpa dos rios. E como a Amazônia é riquíssima em rios, eles estão aproveitando. São mais de 58 projetos de hidrelétricas na Amazônia. Cada barragem incide numa inundação imensa rio acima, provocando um distúrbio na bacia do rio abaixo, além da expulsão dos ribeirinhos. Nós vamos denunciar tudo isso porque ficamos sabendo que a Eletronorte já seduziu os vereadores de Itaituba e levou-os até Itaipu para mostrar as belezas dessa hidrelétrica. Isso porque depende também da Câmara de Vereadores local fazer algum tipo de aprovação do projeto. Agora, os vereadores estão divididos.
Nós, do Pará, não precisamos de mais hidrelétricas. O povo do Pará precisa da distribuição de energia já existente. A hidrelétrica de Tucuruí, por exemplo, já fornece luz para Tapajós, onde vai ser construída uma nova barragem. A energia de Tucuruí já atravessou o rio Tapajós e serve Itaituba.

IHU On-Line – Qual é a situação nesse momento do pessoal que vive próximo ao Tapajós e ao rio Madeira?
Edilberto Sena – Nós estivemos, no final do ano passado, em São Luis do Tapajós, distribuindo nossa cartilha. O pessoal nos escutou, mas depois de irmos embora, chegou gente – supomos que encomendados pela Eletronorte – que foi criar uma contra-informação de forma que, nesta localidade, há pessoas que, agora, são contra e outras a favor. Na localidade de Pimental isso gerou até um conflito religioso. Os padres sensibilizam a população mostrando a importância de proteger o rio, e, na mesma cidade, tem um pastor protestante que, por algum motivo, apóia a hidrelétrica. Desta forma, os protestantes apóiam a construção da barragem e os católicos são contra. Então, dá para imaginar como o joio está sendo semeado na cabeça do povo da região.

Aqui em Santarém, que parece mais distante do problema, tem gente interessada em ouvir nossos argumentos. Fiz, recentemente, uma palestra lá na Ulbra e outra na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Há de fato uma curiosidade por parte da população de Santarém. Não interessa à Eletronorte vir dialogar com o povo. As informações sobre a Amazônia são tão escassas que muitas pessoas que vivem no Sul do país não sabem quantas pessoas vivem aqui na região. Para boa parte dos povos do Sul e de Brasília, especialmente, a Amazônia é um Eldorado de riquezas que precisam ser saqueadas. Quem pensa assim não sabe que na Amazônia vivem 25 milhões de seres humanos. É quase a população de toda a Argentina. E não sabem que aqui se fala mais de 120 línguas e isso significa que há povos diferenciados e que têm direitos constitucionais. No entanto, o governo está passando o rolo compressor, mudando, inclusive, leis ambientais, e está a serviço da mineração aqui no Norte, da Cargill, da Vale, da Rio Tinto e outras grandes empresas que vêm roubar a riqueza da Amazônia.

IHU On-Line – Essas empresas já estão instaladas na região?
Edilberto Sena – A Alcoa está explorando bauxita há mais de dez anos aqui. A Cargil, de forma monstruosa, instalou um porto aqui em frente da cidade, dentro do rio Tapajós e faz dez anos, também, que lutamos contra isso. A Vale está presente em Marabá. A Rio Tinto explorou um grande minério de bauxita no outro lado do Amazonas e já está procurando onde vai instalar seu porto. A Companhia Indústria de Monte Alegre está explorando cimento em Itaituba e está vibrando com os projetos hidrelétricos porque vai fornecer cimento para todas essas grandes obras aí. A Serabi, uma grande empresa estrangeira que explora ouro, trabalha embaixo do rio Tapajós. Tudo isso fora a expansão do agronegócio.

IHU On-Line – Quais são as principais carências que o povo que vive do Tapajós tem?
Edilberto Sena – Na primeira página da nossa cartilha tem a carta que os índios Munduruku escreveram ao Presidente Lula. Eles perguntavam na carta: “porque é que vocês querem fazer toda essa maldade a nós que dependemos do rio e da mata? Tudo isso ao invés de vocês fazerem escola para nós, escola de segundo grau. Por que não trazem um hospital para cuidar dos nossos índios? Ao invés de fazerem essas coisas, vocês estão trazendo desgraça para nós”. É possível, com isso, ver a carência que eles têm na área da saúde e educação. Eu estive lá recentemente e vi como eles vivem sem assistência médica. Tinha lá uma coitada de uma enfermeira sem acesso aos remédios contra a malária.

O ribeirinho também não tem assistência médica nem escolas suficientes. A faculdade mais próxima para aquele povo de lá fica em Itaituba. Imagina agora o pobre jovem que mora lá em Pimental, São Luis ou em Jacareacanga precisam ir até Itatuiba para poder estudar numa faculdade, que é mixuruca, mas existe. A melhor universidade que tem fica em Santarém, aqui tem um pouquinho mais de progresso. O governo nem está preocupado com isso. Eles dizem que instalaram uma universidade nova em Santarém. Sim, fizeram, mas e para o jovem que está lá em Jacareacanga? E para o índio munduruku?

Saneamento básico? Meu Deus. Se você vier aqui em Santarém verá que o esgoto é jogado direto no rio. Aqui nós temos água do céu, do rio, dos igarapés e do aquífero Alter do Chão. Grande parte das famílias da cidade recebe água apenas algumas horas por dia ou algumas vezes por semana, porque a companhia de saneamento do Pará é um desastre. Essa é a situação do povo que vive aqui.

IHU On-Line – Quem pode impedir que essas barragens sejam construídas?
Edilberto Sena – Olha que eu vou dizer coisas que vão me complicar, mas vou dizer. Nós temos que olhar para a história, e é essa história que tentamos passar para o nosso povo, mesmo que nós sejamos acusados pela Folha de São Paulo de que fazemos incitamento ao crime. Na África do Sul temos o exemplo de Nelson Mandela, na Índia temos Ghandi, em Cuba está Fidel Castro. Olhamos para a Bolívia e vemos o índio Evo Morales assumindo o poder – apesar de suas fraquezas. Então, esses exemplos, devem ser mostrados ao povo. Só tem uma forma de impedirmos um governo pseudodemocrático a respeitar nossa dignidade: resistindo. A forma de resistência é algo que temos que aprender a fazer. Nós somos contra a violência e os crimes, mas isso está sendo feito pelo Estado, a violência está sendo feita pela Eletronorte.

(Ecodebate, 24/08/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação. [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]














segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Madeiras de sangue

A Comissão Pastoral da Terra de Anapu nos envia esse texto, que muito nos preocupa e indigna, não por ser mais uma grave denúncia que não encontra eco junto às autoridades competentes, mas por trazer no seu bojo a possibilidade explícita de mais sangue derramado sobre a terra que sepultou a Irmã Dorothy.

Guardada as devidas proporções, a madeira extraída ilegalmente de algumas regiões da Amazônia, como em Anapu, pode ser comparada aos chamados "diamantes de sangue", de Serra Leoa. Esses diamantes são extraídos em áreas de guerrilha de alguns países da África, às custas de muito sangue, tortura e sofrimento da população. "Diamantes de sangue" é sinônimo de exploração, violação dos direitos humanos e abusos no sistema econômico e social.

A denúncia está feita. Se depender de nos não será mais um clamor no deserto.
Comitê Dorothy.

D E N Ú N C I A

12 de fevereiro de 2005 marcou profundamente a história dos agricultores e agricultoras no norte/nordeste do Brasil. Nesta triste data, a Irmã Dorothy foi brutalmente assassinada a queima roupa com seis (6) tiros. Ela foi assassinada porque defendia o direito das famílias na agricultura familiar, como também o direito da floresta e seus habitantes a sobreviver. Hoje as famílias defendidas pela Irmã Dorothy assumem com garra a defesa da floresta e suas criaturas. Os Projetos de Desenvolvimento Sustentável em Anapu na linguagem do INCRA são quatro, mas na linguagem do povo são duas: Esperança e Virola Jatobá. As famílias em todos dois projetos lutam hoje para poder sobreviver, defender a floresta e viver em paz. Virola Jatobá está construindo uma guarita onde eles mesmos vão ficar de guarda e defender a sua floresta de madeireiros invasores atrás de madeira ilegal. Há um porém na história: os madeireiros são armados, os guardas não. No PDS Esperança a guerra está declarada. Desde dezembro a área está invadida por madeireiros que saem dia e noite cheios de madeira nobre, ipê, jatobá, angelim, castanheira, madeireiros com nome e endereço como Divino Gambira, Alagoano, Delio Fernandes, César o filho de Silvino, Lazaro, Manin, João e Gerson.

Em setembro de 2009, os trabalhadores do município se organizaram para empatar a entrada e saída destes madeireiros. Conseguiram numa noite só parar 7 caminhões que eles mesmos entregaram para o IBAMA. Triste situação nossa é que o governo local e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais se juntaram com o governo estadual do Pará para cobrar a saída do chefe de IBAMA e parar as investigações da tirada ilegal de madeira em Anapu, seja por roubo direto ou manejos florestais ilegais. A governadora escreveu uma carta para o presidente de IBAMA. O chefe responsável e consciente foi transferido para o IBAMA de Marabá. Anapu ficou sem cobertura de IBAMA. Resultado: as famílias conscientes do PDS Esperança assumem a luta em defesa de sua floresta. Mas a força destas famílias é frágil diante do dinheiro, das armas e o poder político dos ladrões da floresta. No mês de julho, 2010, um trator usado pelos madeireiros ladrões apareceu queimado. A tirada de madeira parou por um dia. Mas logo começou de novo. Nesta semana, na madrugada de 20 de agosto, foi queimado uma camionete de madeireiro,. Um caminhão grande também foi atingido. Tudo isso na Vicinal 1 do PDS Esperança, na área do Lote 57. Quem queimou esta camionete? Circula ameaças de morte. As casas são rodeadas de noite criando um clima de terror na Vicinal. No meio de tudo isso, chega o dono da camionete com trator e enterra o veículo queimado; ação curiosa que levanta suspeitas em relação a situação da camionete como também quem está por trás da queima destes carros. No dia seguinte, entrou para o PDS Esperança pelo menos 5 caminhões madeireiros, escoltados por carros menores e motocicletas, todos altamente armados. Foi feito Boletim de Ocorrência na delegacia da polícia civil em defesa dos trabalhadores ameaçados. Foi denunciada de novo a situação para o IBAMA e o Ministério Público Federal. E agora? Quais os recursos que restam para este povo fiel e determinado? Se recorrer às armas são bandidos, se deitar na frente dos caminhões madeireiros vai morrer. E a história vai contar o que? Que a floresta acabou porque o povo não a defendeu, porque o povo a derrubou? É assim que a história se escreve no Brasil...mas não é assim que ela acontece.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

5ª Romaria da Floresta


Povo de fé nos céus e de pé nos chãos

(foto da 4ª Romaria, fonte: blog do Comitê Dorothy)

Após cinco anos do assassinato de irmã Dorothy Stang (12/02/05), o povo continua sua luta. Vejam o convite para a 5ª Romaria da Floresta.

CONVITE PARA A 5ª ROMARIA DA FORESTA

“Se quiser a Paz, faça a Justiça.”
Nos 22 a 25 de julho de 2010, em Anapu/PA, haverá a 5ª Romaria da Floresta. Os romeiros e as romeiras caminharão do túmulo da Irmã Dorothy, no Centro São Rafael até a Cruz marcando o lugar onde Irmã Dorothy foi assassinada no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança (PDS) no 12 de fevereiro de 2005.
Esta caminhada é de fé, de resistência, de celebração e esperança. Temos fé de que Deus está conosco, o povo organizado em defesa da vida, a vida do povo e da floresta. As forças de ganância que devoriam a floresta para gerar lucro são grandes e fortes. Caminhamos para declarar e mostrar que não estamos nos entregando a estas forças, mas sim, as resistindo.
Dorothy as resistiu, até as últimas conseqüências, e nós ficamos. Assumimos esta luta também e caminhamos juntas e juntos. Queremos a terra e condições e segurança para trabalhar nela em harmonia com a floresta.
Junte-se a nós, caminhemos juntas. Venha. Seja um romeiro, uma romeira da Floresta. Traga sua mensagem. Sente a força do povo unido e organizado em defesa da vida. Fortaleça sua fé e coragem em memória da Irmã Dorothy e na confiança que esta luta pela vida continua e você pode fazer parte!
A concentração vai ser no Centro São Rafael, Anapu a partir de meio dia. Pode dormir no Centro no 21 de julho. A saída da romaria será às 15horas, no 23 de julho. Chegaremos no PDS à tarde no 24 de julho. No 25 de julho, celebramos a Santa Missa no local da Cruz onde Ir. Dorothy foi morta. Em seguida haverá almoço, e depois uma brincadeira/festa com o povo do PDS. Às 17 horas os transportes contratados trarão os romeiros e as romeiras de volta para Anapu.
Traga prato, colher, copo, rede e cordas ou barraquinha, sapatos ou sandália confortável, chapéu ou boné. Prepare uma mensagem, canto, poesia, oração, cartaz, faixa, teatro para ser partilhado ao longo da caminhada.

Estamos esperando você!

Um abraço,
A Comissão Organizativa
“Terra tem que ser para sempre, temos que pensar
naqueles e naquelas que vê deois de nós.”

Ir. Dorothy

quarta-feira, 9 de junho de 2010

IR. DOROTHY! QUERO CONVERSAR COM VOCÊ!

Querida amiga! Hoje, 07 de junho, é dia do seu aniversário. Parabéns! Creio que você esteja celebrando os seus 79 anos de vida doada de forma simples, alegre e discreta, como sempre fez. Gostaria poder dar-lhe um abraço, mas como agora estamos separadas por diferentes formas de vida, vou conversar com você. Já tantas vezes desejei que você “descanse em paz”, mas neste dia peço “hora extra” de sua atenção.
Hoje cedo fomos ao Tribunal de Justiça do Pará. Levei um ramo de flores para sua amiga Ir. Rebeca. Eram as flores de seu aniversário. Não deu para fazer um bolo e acender a velinha. Alguém terá feito isto onde você está. Amigos ali não devem faltar.
Mas você sabe Ir. Dorothy! Hoje foi o julgamento do recurso do HC (habeas corpus) do Regivaldo Galvão, acusado de mandar matar você. Ele foi condenado a trinta anos de prisão. O povo de Anapu e nós, seus amigos e amigas, também ficamos felizes, não porque alguém foi condenado, mas porque assim se proclama que a vida vale mais do que bens materiais.
Logo em seguida seu advogado Jânio Siqueira recorreu, a desembargadora Maria de Nazaré Gouveia concedeu liminar de liberdade provisória e hoje mais cinco desembargadores foram favoráveis ao habeas corpus liberatório.
Nós estávamos lá. O advogado disse tantas coisas que nos deixou indignados/as. Disse que havíamos desrespeitado o Tribunal de Justiça do Pará, que éramos vingativos, que não conhecíamos o Direito, que havíamos afirmado que a soltura do Regivaldo se devia ao fato de ele ser rico, e mais uma porção de acusações. Chegou a gritar conosco, dizendo que deveríamos respeitar o Tribunal. Você viu que estavam presentes diversos de seus amigos, como o Dr. Felício Pontes, a Dra. Mary Cohen, membros da sua Congregação, do Comitê Dorothy, da CRB. Nenhuma dessas pessoas está envolvida em atos de vingança ou de desrespeito às Instituições. Pelo contrário, todas/os zelosas/os em defender a vida e o direito, solidárias com as vítimas da violência.
Agora gostaria que você nos ajudasse a entender algumas coisas. É verdade que não conhecemos todas as Leis do Direito brasileiro. Ainda mais que mudam tanto e quando se trata de casuísmos, ali mesmo que não acompanhamos. Também nem temos tempo de ler tudo isto, pois tantas vezes temos que ser ombro amigo para pessoas que choram a morte de seus. O Advogado chegou a dizer que faltam livros de Direito em nossas bibliotecas. Faltam mesmo, pois nem todos já chegaram às livrarias e a preços acessíveis. Por outro lado me parece que faltam também livros na biblioteca do Dr. Jânio, pois voltou a vincular e justificar o seu assassinato com a prisão de Guantánamo. Qualquer pessoa de senso comum percebe a insanidade do argumento.
Outra coisa Ir. Dorothy que você poderia nos ajudar, já que lhe pedimos hora extra. O advogado insistiu que havíamos afirmado que a soltura do Regivaldo seria por ele ser rico. Mesmo que não se queira sustentar tal afirmação, pois se desrespeita a Justiça, os fatos levam a gente a concluir que o dinheiro é o poder maior: se fosse pobre, estaria preso, até porque não teria como pagar advogado e levar avante o pedido de HC. Neste caso ainda, por que os pistoleiros ficam presos e o mandante não? Você poderia nos esclarecer isto? Fale com Deus sobre este assunto.
Querida Dorothy! Sendo hoje dia do seu aniversário, pedimos perdão por não fazermos uma memória mais feliz de sua vida. Mas como presente de seu aniversário, lhe afirmamos que cremos que esta história toda a Deus pertence e Ele ainda não deu o seu ponto final. Até então, há sempre esperanças de que muitas flores brotarão de seu sangue semeado neste chão.

Ir. Zenilda Luzia Petry - IFSJ
CRB Regional

terça-feira, 11 de maio de 2010

MANDANTES E ASSASSINOS, JULGADOS E CONDENADOS.

A justiça tarda, mas não falta”, eis um ditado popular verdadeiro. Quando o povo fala este ditado fica claro que a morosidade da justiça tem contribuído para o adiamento constante da consolidação democrática do país, ou seja, não teremos autêntica democracia sem a presença eficaz da justiça social. Esta deve permanecer presente como ferramenta necessária na construção de uma sociedade de iguais. A luta constante de muitos membros da Igreja é para que a justiça de fato funcione e que todos, principalmente os pobres, que são os mais injustiçados, tenham seus direitos respeitados.

A missionária norte-americana Ir. Dorothy Stang, assassinada a tiros no dia 12 de fevereiro de 2005 em Anapu, PA é um dos modelos de martírio da Igreja atual. O dom do martírio é concedido por Deus às mulheres e homens que se deixam conduzir pelo Espírito Santo. O mártir não morre à toa. Não se pode atribuir a graça do martírio a qualquer assassinato que acontece na sociedade. O mártir é a pessoa que se encontrando no seguimento de Jesus de Nazaré e guiado por seu Espírito entrega a sua vida pela causa do Reino de Deus. Eis o conceito clássico e autêntico de martírio. Desta forma, fica claro que não existe martírio fora do seguimento de Jesus, nem sem a devida referência ao Reino de Deus. A Ir. Dorothy Stang morreu pela justiça do Reino de Deus.

No início da madrugada deste 1º de maio, Regivaldo Pereira Galvão, “o Taradão”, um dos mandantes do crime, foi condenado a 30 anos de prisão pela Justiça do Estado do Pará. Antes deste, outros quatro também foram condenados, a saber: Rayfran das Neves Sales, condenado a 28 anos, por executar a Irmã; Clodoaldo Calos Batista, condenado a 17 anos, por participar do assassinato; Amair Feijoli da Cunha, condenado a 18 anos, por intermediar a contratação do executor; Vitalmiro Bastos de Moura, “o Bida”, condenado a 30 anos, um dos mandantes do crime. O crime teria sido encomendado a um valor de 50 mil reais.

Estes cinco criminosos tentaram calar a voz da Igreja na Amazônia. A Ir. Dorothy não agia em seu próprio nome, mas em nome de Deus e em comunhão com a Igreja. Hoje, sua missão é assumida por um Bispo profeta, Dom Erwin Krautler, missionário austríaco na Prelazia do Xingu, e por tantas mulheres e homens que trabalham na construção do Reino de Deus, perseguidos e mortos, clandestinamente. A fé cristã é dinâmica e o sangue dos mártires fecunda a vida da Igreja e do mundo. Todo assassino perde seu tempo pensando que matando um (a) missionário (a) de Jesus a missão profética acabará. O Espírito de Deus tem despertado profetas e profetisas na hora e nas circunstâncias certas da história.

A justiça paraense não pode aceitar recurso algum para redução de pena, anulação de julgamento, habeas corpus etc. em favor de tais criminosos. Eles precisam responder pelo que fizeram. São uma ameaça ao convívio social, precisam ser mantidos presos, pois tudo o que ameaça a segurança pública e a vida da Amazônia precisa estar no estado constante de vigilância. A Justiça sabe da necessidade de um olhar prudente e permanente para a situação da floresta amazônica. Políticas de segurança pública são urgentes para a proteção da floresta e dos povos indígenas que lá residem. A Amazônia é patrimônio da nação brasileira e da saúde do planeta e precisa ser protegida urgentemente. Não se pode mais tolerar o desmatamento, a poluição e a grilagem de terras que ocorrem desordenadamente.

O martírio da Irmã Dorothy Stang interpela a Igreja e a todos os cristãos a se empenharem cada vez mais na luta pela justiça do Reino de Deus. O Reino acontece quando os seguidores de Jesus buscam viver o amor e a justiça. O testemunho da Ir. Dorothy é de amor e de justiça. As Igrejas cristãs precisam renunciar ao prestígio e as riquezas para se dedicarem cada vez mais à prática da justiça. Uma Igreja inserida na luta pela libertação dos oprimidos é uma Igreja de mártires, pois os poderosos deste mundo não toleram os profetas e profetisas do Reino. Somente a profecia, vivida na verdade e no amor, constrói verdadeiramente a Igreja e uma sociedade justa e fraterna.

Tiago de França

UM JULGAMENTO HISTÓRICO

Elias Diniz Sacramento


Depois de mais de quinhentos e dez anos da chegada dos portugueses no Brasil, e dos seus crimes contra todos os povos indígenas, que nunca foram punidos, os latifundiários deste país, que sempre seguiram o exemplo dos portugueses, vão pensar duas vezes antes de cometerem algum mal contra alguém que luta e defende os pequenos desta terra.

Pela primeira vez na história desse país e, mais precisamente no Estado do Pará, campeão em violência no campo, graças ao reinado da impunidade, uma quadrilha toda foi colocada atrás das grades para pagar, perante a lei dos homens pelo crime que cometeram. O crime, o assassinato da Irmã Dorothy Mae Stang, não só Irmã, mas como um dos sobrenomes sugere, “Mae”, “Mãe” dos que com ela conviveram, dos irmãos e filhos de Anapu, filhos sofridos e por ela amados.

Diversas vezes, os meios de comunicação da elite insinuaram que o processo só estava correndo mais rápido porque a Irmã Dorothy era estrangeira, norte americana. Mentiram, porque quem ama o próximo não tem fronteiras, não tem país, vive no amor de Cristo, que é Universal. Esse amor, a Irmã Dorothy soube levar por onde passou. O amor da fraternidade, da partilha, diferente do amor dos fazendeiros, dos grileiros de terra, dos que vêm de fora para esta terra pensando no egoísmo, de ganharem muito dinheiro apenas para si mesmo. Quando pensam nos outros, é para explorar. O amor da Irmã Dorothy era para partilhar o bem comum das terras sem devastar. São pensamentos diferentes e projetos diferentes, onde a ganância de alguns contrasta com o amor dos pobres e oprimidos.

Quantos já morreram por causa desse projeto coletivo, da partilha da terra para dar um sustento digno para as famílias desse país, que também são filhos desta Pátria, às vezes não muito gentil com seus filhos? Irmã Adelaide Molinari, Padre Josimo Tavares, o pai e os filhos Canuto, Dema, Dezinho, Expedito Ribeiro, Benezinho, meu pai Virgílio Serrão Sacramento, 19 Sem Terra em Eldorado dos Carajás e muitos e muitos outros que não pensaram duas vezes de que lado ficar em nome do amor, o verdadeiro amor ensinado por Jesus Cristo, que diz “Não existe prova de amor maior, do que doar a vida pelo próprio irmão”.

O julgamento e a condenação de todos os acusados pelo envolvimento na morte da Irmã Dorothy significam muito para toda a sociedade brasileira, mas precisamente paraense. Não significa dizer que a impunidade no campo acabou, mas que exemplarmente, houve uma condenação justa, que embora se saiba que existem outros fazendeiros de Anapu envolvidos no assassinato, agora vão pensar mais quando forem tirar a vida de alguém que defende o projeto de Deus nesta terra. Isso não quer dizer que daqui para frente a criminalidade vai acabar, porém esses gananciosos, a partir dessa condenação, já sabem que com fé em Deus e muita pressão, a Justiça funciona.

Condenar todos os assassinos da irmã Dorothy, não significa dizer que a luta acabou. Há muitos outros processos que precisam ser julgados e nós vamos continuar nessa batalha para que eles possam ser levados a júri popular. Entretanto, essas condenações têm um significado muito grande. A partir de agora, os grandes latifundiários gananciosos sabem que as coisas não são mais como eles pensavam - tomar terras, matar e tudo ficar impune, como sempre aconteceu.

Tenho certeza que todos os que morreram lutando por um projeto de igualdade, neste Brasil e nesta Amazônia, não morreram em vão, e eles, os MÁRTIRES DA TERRA, assim com nós, estão felizes com a condenação de Regivaldo Galvão. Devem estar comemorando no Céu com a Irmã Dorothy esta vitória.

Todos os Mártires da Terra Vivem? Sempre! Sempre!

Irmã Dorothy vive? Sempre! Sempre!


Elias Diniz Sacramento é filho do sindicalista Virgílio Serrão Sacramento, assassinado em Moju no dia 05 de abril de 1987 a mando de grileiros do município. É Mestre em História Social da Amazônia pela UFPA. Autor do livro 'A luta pela terra numa parte da Amazônia: o trágico 07 de setembro de 1984 em Moju'. É Membro da fundação Virgílio Serrão Sacramento de Educação e colaborador da CPT Guajarina.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

QUE TUA SERVA, SENHOR, DESCANSE EM PAZ!

Quando a justiça e a verdade germinam na terra, o amor e a paz desabrocham quais flores viçosas. É destas flores viçosas que fazemos um ramalhete e depositamos na sepultura de Ir. Dorothy, acompanhada de nossa prece: Agora Senhor, deixa tua serva partir em paz (cf. Lc 2,29).
Sim! Dia 30 de abril de 2010 encerrou-se uma fase da história do sangue derramado que manchou o solo de Anapu, aos 12 de fevereiro de 2005. Este sangue de Ir. Dorothy uniu-se ao sangue de tantas vítimas, cujas veias foram rasgadas pela violência e cobiça que golpeia nossa terra, gerando um mar de lágrimas.
O sangue de Ir. Dorothy, unido ao sangue das outras vítimas da violência, tanto no campo quanto na cidade, fez jorrar um rio de clamores por justiça e uniu pessoas de credos, etnias e condições culturais e sociais distintas. Um brado só chegou ao coração da justiça e, porque não dizer, ao coração de Deus.
A história ainda não deu sua última palavra, mas a força do clamor por justiça, contra a impunidade, resultou na condenação dos cinco acusados da morte de Ir. Dorothy.
Quando, na madrugada deste dia 1º de maio a sentença foi proferida, não foi apenas uma sentença contra um dos mandantes do crime de Ir. Dorothy. Era uma brecha de esperança que se abria para todas as pessoas que sofrem a dor da perda dos seus, cuja justiça tarda demais e não permite que as vítimas “descansem em paz”.
Longe de qualquer sentimento de vingança, a condenação de Regivaldo Pereira Galvão é uma convocação para que todos e todas prossigamos na busca de um mundo mais humano, justo e solidário, sem violência e sem impunidade. Que o amor e a verdade se encontrem e que a justiça e a paz se abracem, conforme reza o salmista (Sl 85,11) e cuja prece também fazemos.
E que agora Ir. Dorothy possa descansar em paz, porque cabe a nós o cultivo das sementes jogadas no chão da história.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
Presidente da CRB Regional

A FORÇA E A FÉ DE UM COMITÊ

A vida é o oposto da morte e os pensamentos de morte são necessários se queremos pensar de maneira significativa na vida .... as mais intensas experiências de vida acarretam as mais intensas experiências de morte (Rollo May, em Liberdade e Destino).
Com este pensamento acima quero testemunhar e reconhecer a força e a fé de um comitê. Trata-se do Comitê Ir. Dorothy, constituído por pessoas cujos sonhos convergiram nesta direção de pensar na vida de maneira significativa, a partir de uma intensa experiência de morte.
Em Anapu, há cinco anos, morria Ir. Dorothy. Sua morte deu novo significado à vida de muitas pessoas. A luta por justiça, o clamor contra a impunidade, a articulação de iniciativas em prol da verdade, a sustentação dos sonhos de quem acreditou num desenvolvimento sustentável para a Amazônia, tudo isto fez surgir o Comitê que, imbuído de força e fé, se pôs solidário com outras experiências intensas de morte, marcadas pela violência e acompanhadas da impunidade
O Comitê Dorothy é fruto de uma intensa experiência de morte que resultou numa grande experiência de vida. Participantes da primeira hora já deixaram atrás de si um testemunho inegável de doação, generosidade, entrega sem medidas. Este testemunho vai se fazendo convocação para outras pessoas que se somam ao sonho comum de que é com justiça que se faz um mundo novo.
O Julgamento do quinto acusado exigiu de todos e todas, o empenho redobrado. Muita emoção a ser contida, muita articulação a ser feita, uma doação sem precedentes. Mulheres e homens, jovens e idosas, montando acampamento, providenciando recursos zelando pelos alimentos, acolhendo pessoas. Noites sem dormir, madrugadores em vigília, atenção redobrada. Além de ser suporte para os que responsáveis do processo judicial, o Comitê, junto com outras entidades, sustentou a mística da resistência para se chegar ao julgamento de todos os acusados.
A maior alegria do Comitê Dorothy não é, certamente, a condenação das pessoas acusadas, mas o sinal de que a impunidade não tem a última palavra. E por ser tal seu norte, o Comitê vai se tornando referência para tantas outras pessoas que clamam por justiça. A frase repetida nas praças por tantas pessoas - mataram meu filho e não consigo a justiça – convoca o Comitê a prosseguir na força e na fé.
A gratidão e o reconhecimento de quem testemunhou tanta solidariedade.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
Presidente da CRB Regional
( CRB - Conferência dos Religiosos do Brasil)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

NOTA À IMPRENSA

JURI DE REGIVALDO GALVÃO, PRINCIPAL MANDANTE DO ASSASSINATO DE DOROTHY STANG

Regivaldo integrava de uma quadrilha especializada na prática de vários crimes


Fraudes, agiotagem e desvios de recursos públicos - Investigações realizadas pela Polícia Federal e Ministério Público Federal a partir de 2001, comprovaram que Regivlado Pereira Galvão representava um dos principais elos da organização criminosa especializada em grilagem de terras públicas, uso de pistolagem e desvios de recursos públicos da extinta SUDAM. Sua casa funcionava como um “banco da organização”, auxiliando nas fraudes e na lavagem do dinheiro adquirido mediante os projetos fraudulentos e fornecendo capital para que a quadrilha pudesse implementar os negócios paralelos. A Polícia Federal apreendeu em seu “banco de financiamento doméstico”, o total de R$ 9.000.000,00 (nove milhões de reais) em moeda circulante. Foi denunciado por crimes de formação de quadrilha, estelionato e outros, na Justiça Federal do Estado do Tocantins. Regivaldo, também conhecido como ‘Taradão’, fazia parte da “engrenagem de uma azeitada máquina fraudadora, denominada máfia da Transamazônica, que por muitos anos sugou milhões dos cofres públicos”, afirma o MPF. Ainda segundo as investigações, Regivaldo era um dos principais operadores do esquema criminoso, por ter fortes ligações com políticos regionais e com o então senador e atual deputado federal, Jader Barbalho.

Grilagem de terras públicas, uso de laranjas, violência e pistolagem - O lote 55 da Gleba Bacajá, local onde a Missionária Dorothy Stang foi assassinada, estava na área de interesse do grupo de fraudadores da SUDAM... (O artigo é longo mas vale a pena - LEIA MAIS AQUI)
Comissão Pastoral da Terra – CPT Regional Pará

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O MANDANTE NÃO PODE FICAR IMPUNE


CASO DOROTHY: O PRINCIPAL MANDANTE NÃO PODE FICAR IMPUNE

Assassinada, com seis tiros, aos 73 anos de idade, em 12 de fevereiro 2005, no município de Anapu, no Estado do Pará-Brasil. No cenário dos conflitos agrários no Brasil, seu nome associa-se aos de tantos outros que morreram e ainda morrem no campo da Amazônia, sem ter seus direitos respeitados.

O crime foi minuciosamente premeditado, ficando comprovada a participação hierárquica de mandantes, intermediário e executores. Os dois fazendeiros, mandantes do crime, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, faziam parte de uma sociedade criminosa que decidiu tirar a vida da religiosa.

Atente para o dia 30 de abril de 2010.
Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, sentará no banco dos réus. É ele o outro fazendeiro e principal mandante do covarde assassinato de Irmã Dorothy.

É hora de darmos um BASTA a tanta VIOLÊNCIA, IMPUNIDADE e INJUSTIÇA no Estado do Pará.

Participe desta luta a favor da Vida, da Justiça e
da Paz.


LOCAL: Fórum Criminal de Belém - Praça Felipe Patroni- Cidade Velha
INÍCIO: 07:00h com celebração inter-religiosa.
COMITÊ DOROTHY

sábado, 17 de abril de 2010

CARTA DE AGRADECIMENTO

Caros amigos (as)

Em 12 de fevereiro de 2005, a opinião pública nacional e internacional, foi sacudida pela noticia da morte violenta de Irmã Dorothy Mae Stang.

Em 12 de abril de 2010, 5 anos e dois meses depois, a opinião pública nacional e internacional foi novamente sacudida pela condenação de 30 anos de reclusão de um dos fazendeiros mandantes do cruel assassinato.

Esta é uma mensagem de agradecimento, pelo que cada entidade e cada indivíduo fez: desde as reuniões para as atividades durante o júri, a preparação do acampamento Dorothy Vive na Praça Felipe Patroni, até o final do julgamento pelo Tribunal do Júri de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos fazendeiros mandantes responsáveis pelo crime, em que a justiça prevaleceu.

Desde que iniciamos as atividades como Comitê, temos em mente que se trata de um projeto de vida e não apenas de algumas ações pontuais de combate a impunidade. É projeto de vida em duas dimensões: porque a luta é difícil e longa, e porque a impunidade gera mais mortes. Talvez seja muito importante destacar esse lado negativo, porque a impunidade, gera além de mortes, a exclusão social, o trabalho escravo, a devastação da natureza. Essa é a agenda da impunidade.

Pensando, em função da ocasião, na Justiça feita, sentimo-nos desafiados a seguir adiante nessa luta árdua, contando com o indispensável apoio de vocês. Essa mensagem é de agradecimento, mas é também uma mensagem de desafio, para que o seu envolvimento pessoal e da entidade a qual você pertence, possa ser ainda maior no próximo dia 30 de abril, data em que irá sentar no banco dos réus, o outro fazendeiro mandante do assassinato de Irmã Dorothy, Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão.

Vamos concentrar nossas forças nessa nova tarefa e, para isso, aqui fica o nosso apelo, para que cada pessoa ponha nela seu coração.

Recebam, portanto, nossos sinceros agradecimentos, e um grande abraço de todos nós, em particular, aos trabalhadores rurais que, em diversos municípios desse Pará afora, tem se dedicado e apoiado a nossa causa com toda a dignidade da participação coletiva, e com o compromisso de sempre lutar por uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna como sempre Irmã Dorothy desejou.

COMITE DOROTHY

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Secretaria de Direitos Humanos vai acompanhar julgamento de mandantes do assassinato de Dorothy Stang

Secretaria de Direitos Humanos vai acompanhar julgamento de mandantes do assassinato de missionária
Gilberto Costa, Repórter da Agência Brasil

A Secretaria de Direitos Humanos deverá acompanhar os julgamentos de Vitalmiro Bastos de Moura (Bida) e Regivaldo Pereira Galvão (Taradão), supostos mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang ocorrido em Anapu (PA), em 12 de fevereiro de 2005.

A secretaria confirmou o envio de dois dirigentes, além de representantes do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).

A medida atende a pedido das irmãs da congregação Notre Dame de Namur, da qual fazia parte Dorothy Stang. As irmãs também pedem que o Ministério da Justiça acompanhe os julgamentos. O ministério informou que estudará a possibilidade de enviar representantes assim que receber o pedido.

Além dos “observadores institucionais”, as irmãs pedem “atenção” da seccional paraense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da OAB nacional “para condutas profissionais que margeiam ética e leis”.

No dia 31 de março, os advogados de defesa de Vitalmiro, conseguiram adiar o julgamento em 2ª instância, marcado para aquela data. A defesa não compareceu ao júri, o que forçou a convocação da defensoria pública e o estabelecimento de nova data para o julgamento: 12 de abril.

A defesa de Vitalmiro protocolou, no dia 31 de março, um pedido de adiamento do júri argumentando que o pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para a soltura de Bida, preso desde o dia 4 de fevereiro, ainda não havia sido analisado. O habeas corpus não tem efeito suspensivo sobre o julgamento. O relator do pedido no STF, ministro Cezar Peluso, ainda não emitiu parecer.

As irmãs de Notre Dame pedem mobilização da sociedade civil para os julgamentos e reiteram “a continuidade da violência e dos crimes em Anapu”.

Para a irmã Rebeca Spires, há relação entre a violência e a impunidade. “O fato de esses mandantes estarem impunes faz com que os crimes continuem lá em Anapu, assim como ocorre em outros lugares porque a impunidade é generalizada”.

“Essa questão da impunidade faz perpetuar os crimes. Isso é uma vergonha para o Pará, para o Brasil. Enquanto não quebra essa impunidade, o crime organizado continua”, assinalou a missionária.

Vitalmiro Bastos de Moura foi condenado a 30 anos de prisão em 2008, no primeiro julgamento, e teve o benefício previsto em lei que prevê um novo júri para condenados a mais de 20 anos de prisão. No segundo julgamento, ocorrido em 2009, ele foi absolvido. O Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou a sentença.

O julgamento de Regivaldo Pereira Galvão está previsto para o dia 30 de abril. A Agência Brasil tentou ouvir os advogados de defesa de Regivaldo e Vitalmiro, mas não recebeu retorno.

Caso Dorothy: Os mandantes não podem ficar impunes!


No próximo dia 12, Vitalmiro Bastos de Moura volta ao banco dos réus, para ser julgado pelo tribunal do júri, por sua participação no assassinato da missionária Dorothy Stang. Dia 30, será levado a julgamento de Regivaldo Pereira Galvão. Os dois fazendeiros faziam parte de uma associação criminosa que, em fevereiro de 2005, decidiu tirar a vida da religiosa oferecendo 50 mil reais, através do intermediário Amair Feijoli para Raifran das Neves e Clodoaldo Batista assassinarem Irmã Dorothy.

Os dois fazendeiros eram “sócios” em negócios criminosos no município de Anapu, envolvendo, grilagem de terras públicas, desmatamento e extração ilegal de madeira, trabalho escravo, ameaças e expulsões violentas de posseiros dos Projetos de Desenvolvimento Sustentáveis.

As denúncias de variados crimes praticados por Bida e Regivaldo, nos anos que antecederam ao assassinato da missionária, feitas pela CPT de Anapu, através de Irmã Dorothy, e também pelos movimentos sociais locais, chegaram às autoridades estaduais e federais, resultando em diversas ações do poder público contra os dois fazendeiros. Em junho de 2004, Bida e Regivaldo foram autuados por trabalho escravo no lote 55; em julho também de 2004, a Polícia Federal pede a prisão dos dois por crimes de trabalho escravo, grilagem de terra, formação de quadrilha e porte ilegal de armas; em agosto e novembro do mesmo ano os dois foram multados em 3 milhões de reais pelo IBAMA por desmatamento e queimada ilegais no lote 55.

Tendo seus crimes desvendados e seus interesses econômicos contrariados, pelas denúncias feitas por Dorothy e os movimentos sociais de Anapu, os dois planejaram a morte da missionária: “enquanto não se der um fim nesta mulher nós não vamos ter paz nestas terras em Anapu”, sentenciou Regivaldo a Bida, “Fala com Raifran que se ele quiser tem 50 mil para matar a irmã Dorothy”, foi a ordem dada por Bida através do intermediário Amair. Além de prometer os 50 mil, que seriam pagos por ele e Regivaldo, Bida forneceu a arma, a munição, deu proteção aos criminosos em sua fazenda, orientou-os a sumir com a arma do crime, como fugirem do cerco da polícia e ainda garantiu advogado para defendê-los, sob a condição de que não revelassem o nome dos mandantes.

A CPT, o comitê Dorothy e demais entidades que lutam por justiça no caso Dorothy, alertam a sociedade e o poder judiciário sobre as manobras da defesa dos fazendeiros com o objetivo de protelar os julgamentos e inocentá-los. Aceitar e se submeter a essas manobras faria aumentar ainda mais o descrédito da sociedade no Poder Judiciário.

Prometeram pagar para que Raifran e Clodoaldo assassinassem a religiosa e agora estão pagando para que os executores e intermediário mudem seus depoimentos para inocentar os mandantes. Documentos juntados ao processo comprovam que o DVD usado no último julgamento que absolveu Bida e que foi anulado pelo Tribunal de Justiça por contrariar as provas existentes nos autos, custou 300 mil reais aos mandantes. Podem continuar comprando os assalariados do crime, mas não comprarão a justiça.

O crime contra Dorothy foi premeditado, ficando fartamente comprovada a participação de cada um de forma hierárquica: mandantes, intermediário e executores, cada um cumprindo seu papel na ação criminosa. A condenação de Vitalmiro e Regivaldo é um passo importante no combate à violência e impunidade no campo no Pará, Estado onde 62% dos crimes no campo nas últimas décadas sequer foram investigados e o único mandante condenado, que cumpre pena atrás das grades é Vitalmiro Bastos de Moura, conforme dados da CPT Pará.

Dorothy vive na luta do povo!

Belém-PA, 09 de abril de 2010.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Pará
Comitê Dorothy
* Imagem obtida no site da Revista Época (Veja AQUI)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

CASO DOROTHY STANG: É HORA DE FAZER JUSTIÇA!

É HORA DE FAZER JUSTIÇA!

  • 7 de junho de 1931 – Nasceu, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy Stang. Veio para o Brasil em 1966, fazendo parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Irmãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados.

  • 12 de fevereiro de 2005 – A missionária Dorothy Stang é covardemente assassinada em Anapú, Pará, por defender uma sociedade mais justa para os trabalhadores rurais do município.

  • 31 de março de 2010 – Um dos mandantes do crime, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, teve seu terceiro julgamento adiado. Ele é apenas a ponta de uma rede de criminosos que tramaram contra a vida de Dorothy.

Basta! No Estado de Direito em que vivemos, há recurso para tudo. Condenações, absolvições, Habeas Corpus, anulações, adiamentos, um vaivém sem fim. A sociedade a tudo assiste perplexa, sem entender o que se passa. Só um fato concreto nos resta de tudo isso: um crime vil foi cometido há cinco anos e os mandantes ainda não foram julgados definitiva e seriamente.

É Hora de fazer justiça! Não podemos aceitar a impunidade e a mentira. O dinheiro não pode falar mais alto, os grileiros, fazendeiros e madeireiros de terras do Pará não podem fazer o que querem, como se neste Estado não existissem leis.

Por isso, chamamos toda a sociedade a se solidarizar com esta causa e participar da mobilização que irá ocorrer durante este julgamento.

Venha, participe conosco nesta luta contra a Violência e a Impunidade.

DATA: 12 de abril de 2010
LOCAL: Fórum Criminal de Belém - Praça Felipe Patroni - Cidade Velha
INÍCIO: 07:30h com celebração inter-religiosa.

Comitê Dorothy

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Amor e Verdade abraçam Justiça e Paz

O Amor e a Verdade se encontram, a Justiça e a Paz se abraçam (Sl 85,11).

Outra vez adiou-se o encontro da verdade com o amor e não foi possível contemplar o abraço da Justiça com a Paz. Dia 31 de março estava sendo aguardado como o dia em que se iniciaria o reverso de uma história. A condenação de um sistema que tira a vida de pessoas de bem e proclama a impunidade de quem mata. A história dos 46 anos de golpe militar seria revertida por um ato que entraria para a história pelas portas do fundo. Estaríamos cantando que Deus “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes” (Lc 1,52). Não mais o poder econômico como senhor da história, não mais a ganância como virtude, não mais a violência como norma de vida. Aguardava-se o julgamento, não somente de duas pessoas, mas de duas causas. A vítima, Ir. Dorothy Stang, o acusado, Vitalmiro Bastos de Moura. Duas causas no tribunal do Júri: a esperança, a simplicidade, a vida, a partilha, a doação, o respeito, a paz e, do outro lado, o poder, a mentira, a ganância, a arrogância, a exploração, a violência.

Novamente fomos vítimas de golpe. Artimanhas do poder adiaram o julgamento e tristemente o amor e a verdade não puderam se encontrar, a justiça e a paz não puderam se abraçar. Sem este encontro entre o amor e a verdade, entre a justiça e paz, nossa vida estremece, nosso planeta derrama lágrimas, nosso coração vive aos sobressaltos e nossas florestas respiram ar contaminado. Ir. Dorothy e sua gente, as Irmãs de Notre Dame de Namur e o Comitê Dorothy, a Vida Religiosa e toda a Igreja, todas e todos mergulhamos no mistério da Paixão do Senhor e cremos na fulgurante aurora da Ressurreição. A ressurreição será celebrada, liturgicamente, neste dia 04 de abril. A ressurreição de Ir. Dorothy será reafirmada no dia 12, quando o Amor e a Verdade se encontram, a Justiça e a Paz se abraçam (Sl 85,11).

Texto da Irmã Zenilda Luzia Petry-IFSJ-Presidente da Conferência de Religiosos do Brasil/ RegionalUm

Ainda assim este blog deseja a todos uma FELIZ PÁSCOA!

terça-feira, 30 de março de 2010

Ir. Dorothy, descanse em Paz!




Dia 31 de março, dia em que se recorda os 46 anos de golpe militar no Brasil, teremos um novo julgamento de Vitalmino Bastos, o Bida, acusado de ser um dos mandantes ou intermediários do assassinato de Ir. Dorothy, condenado em primeiro julgamento e absolvido em segundo. Agora volta ao banco dos réus e a esperança é que haja justiça.
Em vésperas de mais este julgamento emblemático do “Caso Dorothy”, um sentimento habita no coração de muitas pessoas: que Ir. Dorothy, finalmente, possa descansar em paz. Pois cremos que ela só descansará em paz quando houver justiça.
Assim um sentimento comum perpassa o coração e a mente de todos e todas que acreditam na mesma causa pela qual Ir. Dorothy foi assassinada. Que Ir. Dorothy possa descansar em paz junto de Deus e de todos aqueles e aquelas que já tombaram pela causa do bem e que regaram nossa terra com seu sangue.
Nesta vigília deste novo julgamento, nós confessamos, a pleno pulmões, a afirmação do salmista: Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam (Sl 85,11).
Sim, o amor e a verdade vão se encontrar, pois o amor de Ir. Dorothy por esta terra e pelas pessoas que nela habitam trará consigo a verdade dos fatos e, assim, a justiça e paz, finalmente, se abraçarão. E quando a justiça se abraçarem, Ir. Dorothy poderá descansar em paz.
Ir. Zenilda Luzia Petry, IFSJ
Presidente da CRB Regional

sexta-feira, 12 de março de 2010

HIDROPIRATARIA NA AMAZÔNIA?

O jornalista Lúcio Flávio Pinto apresenta denúncias feitas pela revista jurídica Consulex no final do ano de 2009, sobre uma suposta ocorrência de roubo de água na Amazônia por países estrangeiros, com a intenção de alertar, principalmente, os brasileiros, até que ponto o interesse do mundo sobre as riquezas da Amazônia pode chegar. Para ler a matéria completa acesse a página: http://colunistas.yahoo.net/posts/521.htm

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

''Muitas ameaças de morte vieram junto com Belo Monte, por eu ser contra a usina'', diz Dom Erwin Kräutler

Assim como a missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada há cinco anos por contrariar os interesses de grileiros da Amazônia, o bispo da Prelazia do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário, Dom Erwin Kräutler, assume os riscos de sua opção por defender os direitos humanos da população pobre da região.
Ameaçado de morte por ter denunciado crimes, como o abuso sexual de menores por homens ricos de Altamira (PA), Dom Erwin, como é conhecido, vem sendo criticado por se opor ao projeto do governo federal de construir a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), obra que irá deslocar famílias ribeirinhas e povos indígenas, modificando a biodiversidade local.
Confira entrevista com o missionário, em que ele fala sobre a impunidade de crimes, como o que matou Dorothy e sua visão sobre a construção de usinas, que vêm sendo impostas ao povo amazônico por empresas e governantes.

Para ler a entrevista completa clique no nome do entrevistado acima.

A entrevista é de Fabíola Munhoz e publicada por Amazonia.org.br, 17-02-2010.

Quinto aniversário do assassinato de Irmã Dorothy Mae Stang

"não somente o evangelho de Deus,

mas até a própria vida"

1 Tes 2,8

Cinco anos passaram desde aquele fatídico sábado em que Rayfran e Clodoaldo, empregados de Tato, cruzaram o caminho da Irmã Dorothy, não para cumprimentá-la, mas para executar o sinistro plano, há tempo concebido pelo consórcio do crime, e cumprir o nefasto papel de matar a Irmã que dedicou toda a sua vida aos pobres.

Os pobres de hoje não são apenas uns explorados e oprimidos. São excluídos, expulsos da sociedade e da terra por serem considerados "supérfluos" (cf. DAp 65). Irmã Dorothy fez a opção de sua vida exatamente por essas pessoas, por essas famílias "sem eira nem beira", desprezadas e maltratadas, sem perspectivas num mundo em que perderam sua pátria.

Foi aos pobres, que Deus assegurou seu amor incondicional e preferencial. As palavras do profeta Jeremias calaram fundo no coração de Dorothy: "Ponde em prática a justiça e o direito, livrai o oprimido das mãos do opressor, nunca prejudiqueis ou exploreis o migrante, o órfão e a viúva nem jamais derrameis sangue inocente no país" (Jer 22,3). Dorothy não apenas acompanhou as famílias de Anapu e da Transamazônica na busca de seus direitos e defendeu seus interesses, peregrinando de repartição em repartição, procurando falar com prefeitos, vereadores, deputados, senadores. Dorothy fez e foi muito mais: Ela amou! E esse amor fez vibrar cada uma das fibras de seu coração. Ela foi mãe, foi irmã, foi filha de seu povo! Dorothy nos lembra a passagem tão sugestiva na primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "Apresentamo-nos no meio de vós cheios de bondade, como u'a mãe que acaricia os seus filhinhos. Tanto bem vos queríamos que desejávamos dar-vos não somente o evangelho de Deus, mas até a própria vida, de tanto amor que vos tínhamos" (1 Tes 2,7-8).

Naquela manhã de sábado, 12 de fevereiro de 2005, ela testemunhou "o evangelho de Deus", derramando o seu próprio sangue. Foi morta porque amou sem medida, foi trucidada porque entendeu que seu lugar era "ao lado dessas pessoas constantemente humilhadas" [1] foi assassinada porque abraçou "a justiça e o direito" e lutou para livrar "o oprimido das mãos do opressor" (Jer 22,3), foi eliminada do meio do povo pobre porque contrariou os interesses e ambições de "gente que se considera poderosa", como ela mesma costumava expressar-se.
Dorothy viveu em vida a opção pelos pobres sem deixar-se intimidar ou constranger. Com a sua morte, porém, Dorothy ultrapassou todos os limites e fronteiras. Sacudiu o mundo, descerrando a face ensanguentada da Amazônia, fazendo ecoar os gritos e revelando as dores que golpeiam os povos que aqui vivem.

Cinco anos passaram! Cinco anos, também repletos de tramas e trâmites judiciais. Prisões efetuadas com grande alarde, sentenças condenatórias solenemente proferidas e com a mesma solenidade anuladas, pedidos de habeas corpus deferidos e liberdade provisória concedida. Sempre novas versões do crime, chegando até ao cúmulo absurdo de transformar a vítima em ré, alegando legítima defesa.

Há poucos dias um dos acusados é preso outra vez [2] . Foi condenado a 30 anos e absolvido em um segundo julgamento. Agora outro recurso consegue anular o veredicto anterior e o fazendeiro recebe novamente voz de prisão. E a imprensa divulga o fato como se fosse a prova mais convincente de que a Justiça funciona. Só tem um detalhe! Nós todos já estamos saturados de tais notícias. Em breve, algum advogado experto vai achar outra brecha na legislação e o homem conseguirá mais um alvará de soltura para acrescentar à sua coleção. O mesmo se diga do tal desaforamento anunciado agora [3]. Precisava cinco anos para chegar a essa conclusão?!

E o consórcio do crime? Nada mais tem a temer! A poeira há tempo sentou. Afinal, já há quem responde pelo homicídio! Por que procurar outros para submetê-los a processos complicados? Por que investigar a quem já não quer lembrar-se de nada? E aqueles que de longa data prepararam o terreno e o ambiente para que a irmã fosse morta? Agora negam tudo! Há pessoas que andaram de cima para baixo com a Dorothy e com ela comeram farofa na casa da Prelazia. Hoje estão do outro lado! Habilitaram-se a jogar no time adversário! É o salmo 41 bem atualizado: "Até meu amigo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou o calcanhar contra mim" (Sl 41 (40),10).

Neste ano de 2010, o mês de fevereiro, em que Irmã Dorothy foi assassinada, ganha mais uma razão para tornar-se histórico. A Amazônia que Dorothy tanto defendeu e pela qual doou sua vida, recebe mais um golpe, desta vez de proporções que ainda nem sequer podemos vislumbrar. O Presidente da República me prometeu pessoalmente [4] a continuação do diálogo sobre o projeto Belo Monte. No dia primeiro deste mês o Ibama tornou pública a licença prévia para que o Xingu fosse barrado. 1522 km2 de destruição à vista: 516 km2 de área inundada e 1006 km2 de área deteriorada porque faltará água!

Todas as 40 condicionantes que a Licença Prévia elenca para serem observadas pela empresa que sairá vitoriosa no leilão, nada mais são que uma confissão pública do Governo que o projeto, se for executado, terá consequências desastrosas. Ao exigir um bilhão e meio de reais em projetos para mitigar os efeitos, o próprio Governo admite de antemão que Belo Monte causará um terrível e irreversível impacto sobre a Amazônia. Onde já se viu tanto esmero para atenuar sequelas antes de iniciar a obra? É a prova cabal de que o próprio Governo sabe que está dando um tiro no escuro. Até esta data, o Ibama nem sequer conseguiu identificar a abrangência e intensidade dos impactos. Como esse órgão então pode realmente atestar a viabilidade de Belo Monte?

Lamentavelmente, quem sofrerá os trágicos efeitos não serão os tecnocratas em Brasília e políticos míopes, mas os povos desta região da Amazônia. O Xingu nunca mais será o mesmo. O solo será danificado, a floresta devastada e das águas turvas e mortas emergirão apenas os esqueletos esbranquiçados das outrora frondosas árvores.
É a política do rolo compressor, é a tática do fato consumado, é o método do autoritarismo que não aceita contestação!

E Dorothy, no seu túmulo, chora a desgraça anunciada!
Mas não deixa de encorajar-nos na luta em favor da vida contra projetos de morte. Nosso caminho é aquele traçado pelo Evangelho. Somos enviados por Jesus para anunciar a Boa Nova aos pobres e denunciar o que se opõe ao Evangelho da Vida, para quebrar as algemas da opressão e tirania, para defender o lar que Deus criou para todos nós e as futuras gerações, e proclamar um ano de graça do Senhor (cf. Lc 4,18-19).


Amém! Marána thá! Vem Senhor Jesus!


Anapu, 12 de fevereiro de 2010


Erwin Kräutler, Bispo do Xingu