terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MORRE BISPO DA REFORMA AGRÁRIA

O Comitê Dorothy se solidariza com a Comissão Pastoral da Terra,  neste momento de dor: a morte de Dom Ladislau Biernask nesta segunda dia 13. Que ele seja sempre uma inspiração e motivação para continuarmos lutando pelo sagrado direito à terra.



 Dom Ladislau Biernaski era desses homens apaixonados pela terra. Mãos
calejadas e unhas turvas, seu grande orgulho era mostrar a horta que mantinha no
quintal de sua residência simples na cidade na qual viveu por muitos anos e da qual foi
bispo nos últimos cinco, São José dos Pinhais. Essa paixão pela terra, herdada da
família de imigrantes poloneses, fez com que ele transformasse a terra também numa
causa evangélica e política. Por ela frequentou acampamentos e assentamentos em
nome da Igreja. Muitas vezes deixou mitras e cátedras e foi à praça do povo para
celebrar esse compromisso profético com a justiça. À frente da Comissão Pastoral da
Terra em nível estadual e nacional, e das demais pastorais sociais que acompanhou,
Dom Ladislau foi um amigo e companheiro. Soube como ninguém entender e explicar
a missão pastoral da Igreja dos pobres e por esta clarividência, participou de inúmeras
mobilizações da luta dos pobres paranaenses no campo e na cidade.
Na missa de sua posse, em março de 2007, na nova Diocese, o bispo do povo
declarou que "no âmbito da justiça é que se louva a Deus". Foi essa certeza que o
alimentou em tantos anos de vida e de sacerdócio. Foi ela que o fez recusar os
sacrifícios inocentes ofertados a Deus com o sangue dos trabalhadores e
trabalhadoras. Talvez por isso, sua comovente simplicidade não o tornou perfeito
como homem, mas o fez buscar a justiça como norma. Carregou suas cruzes e
sangrou suas próprias feridas. Em seus olhos inquietos e miúdos sempre pudemos
encontrar aquela inquietude de um ser inacabado. Teve seus erros, seus dramas e
suas noites insones, depois das quais, louvava a Deus com um farto café da manhã
na mesa central de sua sala, para o qual muitas vezes contava com a companhia de
amigos e companheiros de luta. Partilhou o pão, a paixão e os estorvos da luta.
Seu lugar era à mesa dos pobres, como esperança, e às tribunas dos poderes
e das mídias, como advertência. Ouviu com paciência. Amou com radicalidade. Falou
com admirável coragem das causas mais difíceis, cujas feridas ainda sangram na
geografia da nação. Foi padrinho incansável da campanha pelo módulo máximo para a
propriedade da terra no Brasil. Chorou a morte de tantos trabalhadores sem terra país
afora. Denunciou o trabalho escravo. Rezou por suas viúvas e abençoou seus filhos.
Acreditou incansavelmente na agroecologia, na produção sustentável, no respeito
ambiental e no comércio justo. Defendeu a agricultura camponesa com o entusiasmo
que trouxe do berço. Caminhou em romarias e marchas. Deu entrevistas. Falou do
Evangelho com a cativante palavra da esperança e da vida com a evangélica força do
testemunho.
Como tantos outros, Dom Ladislau morreu hoje sem que sua utopia se
realizasse. Mas dizem que a melhor forma de homenagear uma vida que se foi é dar
continuidade aos seus projetos. Essa é a forma como eu e você devemos lembrar este
homem cujo testemunho é, de tão raro, inesquecível; e de tão simples, profético.
Nossa teimosia será sempre uma forma de homenagem. Sua memória um
compromisso com a vida.
*Jelson Oliveira - Coordenador do Curso de Filosofia PUC-PR e agente da CPT Paraná

Nenhum comentário: