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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CONTINUAMOS LUTANDO CONTRA A BARRAGEM DE BELO MONTE

O Comitê Dorothy participou, em Altamira, nos dias 25, 26 e 27 de Outubro do Seminário Mundial: “Territórios, ambiente e Desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu”. Também estiveram presentes representantes de comunidades ribeirinhas, indígenas, estudantes, sindicalistas, trabalhadores das zonas rurais e urbanas de Altamira. Pessoas de outros Estados das regiões Norte, Sudeste (Movimento “Indignados de Sampa) e do Sul do País. Todos determinados e motivados a continuar nessa luta por não acreditarem e nem se renderem ao discurso oficial, mentiroso “dos benefícios trazidos pela barragem de Belo Monte”.
Em todas as mesas de debate, a resistência e determinação para a continuidade da luta foram elementos recorrentes na fala dos guerreiros indígenas, pescadores, representantes de sindicatos e movimentos sociais. Davi Gavião afirmou “Para mim, as pessoas que estão querendo fazer essas usinas, são uma doença. São um câncer que vai matar o planeta. Nós somos o remédio para essa doença. Sou filho de quem foi impactado por uma usina, a de Tucuruí. Faz 35 anos que nosso povo foi retirado de sua área e até agora estamos lutando por uma indenização. Faz 35 anos! Essa belo Monte vai trazer muitos impactos também.Temos que lutar contra todas as barragens!”.

Também impressionou a garra de Juma Xipaia, liderança indígena Xipaia, uma das etnias afetadas por Belo Monte “Somos guerreiros e não vamos pedir nada ao Governo, mas exigir o que a Constituição nos garante. Nossos antepassados lutaram para que nós estivéssemos aqui. Já foram feitos vários documentos, várias reuniões e nada mudou. As máquinas estão chegando. Continuou Juma, “Belo Monte só vai sair se cruzarmos os braços. Não podemos ficar calados. Temos que berrar e é agora.
O testemunho do pescador, Raimundo Braga Nunes, contagiou e fortaleceu a todos: “Tenho 28 anos de pesca, criei minha família com dignidade. Hoje tenho 47 anos, gostaria que meus netos também pudessem viver dignamente da pesca. Tenho certeza que depois de Belo Monte vou ser obrigado a mudar de trabalho, porque peixe não vai ter. Vai morrer ou vai migrar. Eu não me calo, estou pronto para brigar, preparado. Convido nossos amigos indígenas para somar forças para proteger nosso rio. O Xingu é nosso pai e nossa mãe”.
Para o professor da UFPA. (Campus de Altamira) Marcel Ribeiro Padinha, nesse seminário “A Voz do Xingu, mais autêntica, a de populações simples e íntegras, se fez ecoar para bradar em três dias, em claro e alto som, NÃO QUEREMOS BELO MONTE!”  Cansadas de reuniões, manifestações, caminhadas, essas vozes ocuparam o canteiro de obras da Norte Energia, no km 50 da Transamazônica, no município Vitória do Xingu, na madrugada do dia 27 de outubro. Esse dia, representou e representará um marco na história de luta em defesa da bacia do Xingu. 
Por todo aquele dia, a mística dos que acreditam num projeto sustentável de vida para todas as comunidades originárias da Amazônia, se fez sentir nas danças, nos cantos das comunidades indígenas, nas palavras de ordem dos movimentos sociais, nas paródias dos estudantes.
Depois de 15 horas de ocupação, por ordem da juíza estadual Cristina Collyer Damásio, os manifestantes tiveram que deixar o canteiro de obras. Embora o mandado da juíza estivesse direcionado para todos os manifestantes, o advogado da Nesa e oficial de justiça insistiram para que fosse feita uma apresentação das lideranças. 
O que para o Presidente da Sociedade Paraense de Direitos Humanos, o advogado Marco Apollo Santana Leão, houve uma clara tentativa de criminalização das lideranças.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Declaração da Aliança do Xingu contra Belo Monte “Não permitiremos que o governo crie esta usina e quaisquer outros projetos que afetem as terras, as vidas e a sobrevivência das atuais e futuras gerações da Bacia do Xingu”



Nós, os 700 participantes do seminário “Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu”; nós, guerreiros Araweté, Assurini do Pará, Assurini do Tocantins, Kayapó, Kraô, Apinajés, Gavião, Munduruku, Guajajara do Pará, Guajajara do Maranhão, Arara, Xipaya, Xicrin, Juruna, Guarani, Tupinambá, Tembé, Ka’apor, Tupinambá, Tapajós, Arapyun, Maytapeí, Cumaruara, Awa-Guajá e Karajas, representando populações indígenas ameaçadas por Belo Monte e por outros projetos hidrelétricos na Amazônia; nós, pescadores, agricultores, ribeirinhos e moradores das cidades, impactados pela usina; nós, estudantes, sindicalistas, lideranças sociais e apoiadores das lutas destes povos contra Belo Monte, afirmamos que não permitiremos que o governo crie esta usina e quaisquer outros projetos que afetem as terras, as vidas e a sobrevivência das atuais e futuras gerações da Bacia do Xingu.
Durante os dias 25 e 26 outubro de 2011, nos reunimos em Altamira para reafirmar nossa aliança e o firme propósito de resistirmos juntos, não importam as armas e as ameaças físicas, morais e econômicas que usaram contra nós, ao projeto de barramento e assassinato do Xingu.
Durante esta última década, na qual o governo retomou e desenvolveu um dos mais nefastos projetos da ditadura militar na Amazônia, nós, que somos todos cidadãos brasileiros, não fomos considerados, ouvidos e muito menos consultados sobre a construção de Belo Monte, como nos garante a Constituição e as leis de nosso país, e os tratados internacionais que protegem as populações tradicionais, dos quais o Brasil é signatário.
Escorraçadas de suas terras, expulsas das barrancas do rio, acuadas pelas máquinas e sufocadas pela poeira que elas levantam, as populações do Xingu vem sendo brutalizadas por parte do consórcio autorizado pelo governo a derrubar as florestas, plantações de cacau, roças, hortas, jardins e casas, destruir a fauna do rio, usurpar os espaços na cidade e no campo, elevar o custo de vida, explorar os trabalhadores e aterrorizar as famílias com a ameaça de um futuro tenebroso de miséria, violência, drogas e prostituição. E repetindo assim os erros, o desrespeito e as violências de tantas outras hidrelétricas e grandes projetos impostos à força à Amazônia e suas populações.
Armados apenas da nossa dignidade e dos nossos direitos, e fortalecidos pela nossa aliança, declaramos aqui que formalizamos um pacto de luta contra Belo Monte, que nos torna fortes acima de toda a humilhação que nos foi imposta até então. Firmamos um pacto que nos manterá unidos até que este projeto de morte seja varrido do mapa e da história do Xingu, com quem temos uma dívida de honra, vida e, se a sua sobrevivência nos exigir, de sangue.
Diante da intransigência do governo em dialogar, e da insistência em nos desrespeitar, ocupamos a partir de agora o canteiro de obras de Belo Monte e trancamos seu acesso pela rodovia Transamazônica. Exigimos que o governo envie para cá um representante com mandado para assinar um termo de paralisação e desistência definitiva da construção de Belo Monte.
Altamira, 27 de outubro de 2011

Fonte: Xingu Vivo