quarta-feira, 9 de junho de 2010

IR. DOROTHY! QUERO CONVERSAR COM VOCÊ!

Querida amiga! Hoje, 07 de junho, é dia do seu aniversário. Parabéns! Creio que você esteja celebrando os seus 79 anos de vida doada de forma simples, alegre e discreta, como sempre fez. Gostaria poder dar-lhe um abraço, mas como agora estamos separadas por diferentes formas de vida, vou conversar com você. Já tantas vezes desejei que você “descanse em paz”, mas neste dia peço “hora extra” de sua atenção.
Hoje cedo fomos ao Tribunal de Justiça do Pará. Levei um ramo de flores para sua amiga Ir. Rebeca. Eram as flores de seu aniversário. Não deu para fazer um bolo e acender a velinha. Alguém terá feito isto onde você está. Amigos ali não devem faltar.
Mas você sabe Ir. Dorothy! Hoje foi o julgamento do recurso do HC (habeas corpus) do Regivaldo Galvão, acusado de mandar matar você. Ele foi condenado a trinta anos de prisão. O povo de Anapu e nós, seus amigos e amigas, também ficamos felizes, não porque alguém foi condenado, mas porque assim se proclama que a vida vale mais do que bens materiais.
Logo em seguida seu advogado Jânio Siqueira recorreu, a desembargadora Maria de Nazaré Gouveia concedeu liminar de liberdade provisória e hoje mais cinco desembargadores foram favoráveis ao habeas corpus liberatório.
Nós estávamos lá. O advogado disse tantas coisas que nos deixou indignados/as. Disse que havíamos desrespeitado o Tribunal de Justiça do Pará, que éramos vingativos, que não conhecíamos o Direito, que havíamos afirmado que a soltura do Regivaldo se devia ao fato de ele ser rico, e mais uma porção de acusações. Chegou a gritar conosco, dizendo que deveríamos respeitar o Tribunal. Você viu que estavam presentes diversos de seus amigos, como o Dr. Felício Pontes, a Dra. Mary Cohen, membros da sua Congregação, do Comitê Dorothy, da CRB. Nenhuma dessas pessoas está envolvida em atos de vingança ou de desrespeito às Instituições. Pelo contrário, todas/os zelosas/os em defender a vida e o direito, solidárias com as vítimas da violência.
Agora gostaria que você nos ajudasse a entender algumas coisas. É verdade que não conhecemos todas as Leis do Direito brasileiro. Ainda mais que mudam tanto e quando se trata de casuísmos, ali mesmo que não acompanhamos. Também nem temos tempo de ler tudo isto, pois tantas vezes temos que ser ombro amigo para pessoas que choram a morte de seus. O Advogado chegou a dizer que faltam livros de Direito em nossas bibliotecas. Faltam mesmo, pois nem todos já chegaram às livrarias e a preços acessíveis. Por outro lado me parece que faltam também livros na biblioteca do Dr. Jânio, pois voltou a vincular e justificar o seu assassinato com a prisão de Guantánamo. Qualquer pessoa de senso comum percebe a insanidade do argumento.
Outra coisa Ir. Dorothy que você poderia nos ajudar, já que lhe pedimos hora extra. O advogado insistiu que havíamos afirmado que a soltura do Regivaldo seria por ele ser rico. Mesmo que não se queira sustentar tal afirmação, pois se desrespeita a Justiça, os fatos levam a gente a concluir que o dinheiro é o poder maior: se fosse pobre, estaria preso, até porque não teria como pagar advogado e levar avante o pedido de HC. Neste caso ainda, por que os pistoleiros ficam presos e o mandante não? Você poderia nos esclarecer isto? Fale com Deus sobre este assunto.
Querida Dorothy! Sendo hoje dia do seu aniversário, pedimos perdão por não fazermos uma memória mais feliz de sua vida. Mas como presente de seu aniversário, lhe afirmamos que cremos que esta história toda a Deus pertence e Ele ainda não deu o seu ponto final. Até então, há sempre esperanças de que muitas flores brotarão de seu sangue semeado neste chão.

Ir. Zenilda Luzia Petry - IFSJ
CRB Regional