quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais matança de trabalhadores rurais no Pará

MATANÇA NA FAZENDA RIO CRISTALINO, MUNICÍPIO DE SANTANA DO ARAGUAIA, SUL DO PARÁ

De maio a outubro de 2010, 04 trabalhadores rurais, cujos nomes constariam numa “lista” de marcados para morrer, foram assassinados na área ainda não desapropriada da Fazenda Cristalino, ocupada por cerca de 600 famílias desde 2008.

As vítimas foram: o lavrador Paulo Roberto Paim, morador do Retiro 5, pai de 2 filhos menores, assassinado em 28.5.10, na estrada do Retiro 5; José Jacinto Gomes, conhecido como Zé Pretinho, posseiro do Retiro 7, encontrado morto na sua própria roça, em 26.6.10, com diversos hematomas no corpo; em 22.10.10 foi a vez de Givaldo Vieira Lopes, pai de 3 filhos menores, morto por dois tiros na estrada do Lote 04, quando estava andando sozinho, de motocicleta, teve o corpo muito machucado; por fim, Lourival Coimbra Gomes, também conhecido por “Baiano”, cujo corpo foi encontrado no dia 24.10.10 na sua própria casa, com a cabeça decepada, a qual não foi encontrada.

A ocupação foi feita em 2008 pela FETRAF, numa área não desapropriada de 50.000ha da Fazenda Rio Cristalino (ex-Fazenda Volkswagen). A partir de 2009, muitas dessas famílias se desligaram da FETRAF e criaram a “Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais dos Retiros 1 ao 15” da Fazenda Cristalino, devido a pressão de um grupo que se diz representante da entidade e que extorque dinheiro das famílias, ameaçando-as para sair dos lotes que já tinham pago à entidade. Esse grupo persegue as lideranças da nova Associação, cujos nomes constariam, entre outros, numa lista de marcados para morrer.

Os nomes de todos os acusados constam nas diversas ocorrências policiais registradas pelos trabalhadores na Policia Civil de Santana do Araguaia, na Delegacia de Conflitos Agrários de Redenção (DECA), na Policia Federal e junto ao Ministério Público Estadual.

Diante disso, questiona-se:

Até quando as famílias da Fazenda Rio Cristalino vão ter que esperar pela prisão dos membros do grupo de extermínio?

Quem será a próxima vitima da “lista” dos marcados para morrer:

- Dona Jocélia, viúva de Givaldo, que continua a trabalhar em seu lote do Retiro 7?

- Dona Rosário Pereira Milhomem, tesoureira da Associação, que continua a morar no seu lote, no Retiro 8, apesar das ameaças desses pistoleiros que apontaram armas em sua cabeça?

- outros?

Xinguara-PA, 06 de dezembro de 2010.

Frei Henri Burin des Roziers - Advogado da Comissão Pastoral da Terra

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desmatamento e Ameaça de Morte no Assentamento Dorothy Stang

Redação CORREIO (Extraído do Site Correio24horas.com. Clique AQUI para acessar o site)

Quase seis anos após o assassinato de Dorothy Stang, a reportagem do Jornal Nacional voltou ao assentamento coordenado pela missionária, no sudoeste do Pará e pôde observar que pouca coisa mudou. A floresta continua sendo devastada, e os agricultores ainda vivem ameaçados por pistoleiros. A reportagem é de Fabiano Villela e Jorge Ladimar.

A floresta nativa desaparece em meio à devastação. Ao custo de milhares de árvores, fazendas espalharam seus rebanhos para muito além da área permitida.

Seguindo as clareiras na mata, encontramos máquinas escondidas sob galhos e várias pilhas de troncos. O desmatamento avança, principalmente, entre os municípios de Pacajá e Anapu, no sudoeste do estado, onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada, quando defendia a floresta e os colonos da ação de grileiros. A área concentra um dos últimos recantos de vegetação nativa na região.

Lavradores que moram no assentamento dizem que estão sendo ameaçados. “Eles entram pelo fundo dos seus lotes, tiram a madeira e você não tem direito de dizer que não pode tirar porque ele diz assim: ‘eu vim aqui não é para brincadeira’", revela uma lavradora.

Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), cerca de 200 famílias vivem hoje na região. Quarenta estão sendo investigadas por suspeita de envolvimento na devastação. “É um grupo de pessoas bem organizadas que estão tirando madeira do assentamento, não são pobres colonos sem dinheiro que estão tirando madeira. Na verdade, estão tirando mesmo, de forma deliberada, financiado por madeireiras”, diz Antônio Ferreira, coordenador do Incra em Anapu.

Em uma área do assentamento, de mata fechada, os fiscais do Ibama constataram a extração ilegal de madeira. No local, foi derrubado esse Angelim de mais de 30 metros de altura. É madeira nobre, de alto valor no mercado. E no meio da floresta, dá para ver que as toras já estavam sendo beneficiadas em uma espécie de serraria.

“Vamos fazer o embargo da área, essa área não vai mais poder ser explorada e vamos monitorar as áreas e vamos informar ao Incra. O assentado, com esse tipo de atitude, pode vir a sair do projeto de reforma agrária,” conta a analista ambiental Gracicleide Braga, do IBAMA.

A Comissão Pastoral da Terra diz que as primeiras denúncias de retirada ilegal de madeira foram feitas há quase um ano e que até hoje o clima é de insegurança na região. “Tem algumas pessoas que têm até medo de sair de casa, porque, quando os madeireiros passam, eles passam escoltados geralmente por pistoleiros, e essas pessoas estão lá indefesas. O povo quer sobreviver. Do jeito que está, não dá”, diz Padre Amaro Lopes de Souza, da Comissão Pastoral da Terra de Altamira. As informações são da TV Globo.

Assista a reportagem do Jornal Nacional clicando na imagem